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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

The White Stripes. O fim do duo maravilha




Página inteira para dizer que uma banda deu por terminadas as suas funções pode parecer exagero. Mas tratando-se de um grupo que fez o favor de influenciar tudo o que foi gerado na família rock''n''roll da última década, a decisão não é em nada descabida - tal como não é despropositado o elogio que acabamos de fazer aos White Stripes.

Com a arrogância saudável de quem sabe que tem todas as certezas do mundo e a herança da evolução da música urbana espremida numa aditiva simplicidade instrumental, o duo criou um novo espaço na indústria pop, fez-se exemplo para outros e assegurou que nunca ninguém vai repetir as suas proezas. Os White Stripes terminaram por, disseram ontem em comunicado, "várias razões, sobretudo para preservar o que é bonito e especial nesta banda". Estavam em período sabático desde 2007 e ontem carimbaram o fim oficial. Continua a banda "que é de todos os que a ouvem", disseram, com futuras edições de material inédito pela Third Man Records de Jack White.

Surgiram em 1997, com o então casal Jack e Megan White (divorciaram-se em 2000). Ele vindo de outras bandas, baterista com ambição de estar na frente do palco, a história dos blues presa nos nervos e a distorção de guitarras indisciplinadas como mania de garoto mal comportado. Ela com currículo feito nos bares e balcões de estabelecimentos de hotelaria não referencial de Detroit. Ambos nativos da cidade que gerou a Motown, Iggy Pop e os seus Stooges (Ann Arbor, a verdadeira terra-mãe do grupo, é uma cidade muito próxima) e os MC5. Ou seja, berço de canções nascidas da tradição negra e das origens primárias do punk. Os White Stripes procuraram juntar os dois universos, com um guitarrista que nunca quis ser virtuoso e uma baterista que nunca tinha ocupado tal lugar. A ausência de regras levou à criação de um método próprio e uma discografia que espelhou crescimento exemplar. Ou a junção de duos como os Carpenters, Ike & Tina ou Sonny & Cher sob o efeito de anfetaminas.

Com o primeiro "The White Stripes" ditaram mandamentos: acordes-com-bateria-geométrica-com-voz-de-gospel-diabólico. Temas curtos e imediatos, para ouvir uma e outra vez. A fórmula seria apurada até 2001, ano de "White Blood Cells" e de uma colecção de quase-singles perfeitos. Só não resultaram em pastilha elástica radiofónica porque era tudo abrasivo, deliciosamente abrasivo. O disco chegou poucos meses antes da estreia dos The Strokes (com "Is This It") e da explosão do revivalismo do rock feito na e para a garagem (que seria rapidamente transformada em concertos para multidões), do regresso dos Converse All-Star e da moda cool-despreocupada. Os White Stripes aproveitaram o embalo, fizeram ficção com a existência fora dos discos (são um casal; não; são irmãos; não) e tornaram-se pin-ups.

A palavra "sucesso" surgiu na biografia da banda em 2003, com a edição de "Elephant" e o single "Seven Nation Army" - ou de quando uma banda é de facto popular quando uma das suas canções chega a hino futebolístico. Desde então foi acumular elogios e aprumar uma estética muito própria, acrescentado arrojo instrumental, maior serenidade na composição e investimento generoso no cultivo de uma imagem pop.

Ao mesmo tempo, Jack White fez-se mentor de outros projectos (como os Raconteurs, os Dead Weather ou os novos Rome, com Danger Mouse e Norah Jones) e produtor de referência (o mais recente fruto deste trabalho é o disco de Wanda Jackson, "The Party Ain''t Over"). O futuro que é hoje o presente ia ganhando forma, até culminar numa obrigação de tudo o que é ícone rock''n''roll: o fim sem aviso prévio.

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